- Elementos de Construção do Texto e seu Gênero
As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem um texto. Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
- Denotação e Conotação: Sentido denotativo das palavras é aquele encontrado nos dicionários, o chamado sentido real e verdadeiro. Já o uso conotativo das palavras é a atribuição de um sentido figurado, fantasioso e que, para compreensão, depende do contexto.
- Polissemia: São algumas palavras, que dependendo do contexto, assumem múltiplos significados, como, por exemplo, a palavra ponto: ponto de ônibus, ponto de vista, ponto final, ponto de cruz... Neste caso, não se está atribuindo um sentido fantasioso à palavra ponto, e sim ampliando sua significação através de expressões que lhe completem e esclareçam o sentido.
- Denotação e Conotação: Sentido denotativo das palavras é aquele encontrado nos dicionários, o chamado sentido real e verdadeiro. Já o uso conotativo das palavras é a atribuição de um sentido figurado, fantasioso e que, para compreensão, depende do contexto.
- Polissemia: São algumas palavras, que dependendo do contexto, assumem múltiplos significados, como, por exemplo, a palavra ponto: ponto de ônibus, ponto de vista, ponto final, ponto de cruz... Neste caso, não se está atribuindo um sentido fantasioso à palavra ponto, e sim ampliando sua significação através de expressões que lhe completem e esclareçam o sentido.
- Textos literários e não literários
Os diferentes tipos de textos devem-se, principalmente, às diferenças de finalidade/função e ao público destinatário de cada um deles.
Dica: As funções de linguagem na língua portuguesa ajudam a diferenciar um texto literário de um texto não literário.
Para perceber se um texto é ou não literário, é preciso analisar sua função predominante, isto é, qual é o seu objetivo principal. Se este for informar algo de modo objetivo, de acordo com os conhecimentos que se tem da realidade exterior, ou se tiver um compromisso com a verdade cientifica, o texto não é literário, mesmo que ao elaborar a linguagem, seu autor tenha feito uso de figuras de estilo, utilizando recursos estilísticos de expressão. O texto não literário trata de um assunto/problema concreto da realidade. A função predominante neste tipo de texto é a denotativa.
Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade exterior: é expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos para entreter, emocionar e sensibilizar o leitor; por isso muitas vezes utilizam a linguagem poética. Esse tipo de texto cria uma história ficcional a partir de dados da realidade. A função emotiva e a poética predominam no texto literário.
Os textos literários exploram bastante as construções de base conotativa, numa tentativa de extrapolar o espaço do texto e provocar reações diferenciadas em seus leitores.
Exemplos de textos não literários: notícias e reportagens jornalísticas, textos de livros didáticos, textos científicos em geral, manuais de instrução, receitas culinárias, bulas de remédio, cartas comerciais etc.
Exemplos de textos literários: poemas, romances literários, contos, novelas, letras de música, peças de teatro, crônicas etc.
Perceba que existem publicações que veiculam textos dos dois tipos. Os jornais e as revistas, por exemplo, que, além de notícias e reportagens, contêm fotos, desenhos, charges, passatempos, receitas, resenhas, sinopses, resumos, poemas, crônicas, editoriais etc.
Exemplos de textos literários: poemas, romances literários, contos, novelas, letras de música, peças de teatro, crônicas etc.
Perceba que existem publicações que veiculam textos dos dois tipos. Os jornais e as revistas, por exemplo, que, além de notícias e reportagens, contêm fotos, desenhos, charges, passatempos, receitas, resenhas, sinopses, resumos, poemas, crônicas, editoriais etc.
2. Interpretação e Organização interna
Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finalidade a identificação de um leitor autônomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado. Para ler e entender bem um texto basicamente deve-se alcançar os dois níveis de leitura: a informativa e de reconhecimento e a interpretativa. A primeira deve ser feita de maneira cautelosa por ser o primeiro contato com o novo texto. Desta leitura, extraem-se informações sobre o conteúdo abordado e prepara-se o próximo nível de leitura. Durante a interpretação propriamente dita, cabe destacar palavras-chave, passagens importantes, bem como usar uma palavra para resumir a ideia central de cada paragrafo. Este tipo de procedimento aguça a memória visual, favorecendo o entendimento.
Não se pode desconsiderar que, embora a interpretação seja subjetiva, há limites. A preocupação deve ser a captação da essência do texto, a fim de responder às interpretações a banca considerou como pertinentes.
No caso de textos literários, é preciso conhecer a ligação daquele texto com outras formas de cultura, outros textos e manifestações de arte da época em que o autor viveu. Se não houver está visão global dos momentos literários e dos escritores, a interpretação pode ficar comprometida. Aqui não se podem dispensar as dicas que aparecem na referência bibliográfica da fonte e na identificação do autor.
A ultima fase da interpretação concentra-se nas perguntas e opções de resposta. Aqui são fundamentais marcações de palavras como não, exceto, errada, respectivamente e etc que fazem diferença na escolha adequada. Muitas vezes, em interpretação, trabalha-se com o conceito do "mais adequado", isto é, o que responde melhor ao questionamento proposto. Por isso, uma resposta pode estar certa para responda à pergunta, mas não ser a adotada como gabarito pela banca examinadora por haver uma outra alternativa mais completa. Ainda cabe ressaltar que algumas questões apresentam um fragmento do texto transcrito para ser a base de análise. Nunca deixe de retornar ao texto, mesmo que aparentemente pareça ser perda de tempo. A descontextualização de palavras ou frases, certas vezes, são também um recurso para instaurar a dúvida do candidato. Leia a frase anterior e a posterior para ter a ideia do sentido global proposto pelo autor, desta maneira a resposta será mais consciente e segura.
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte:
1 - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto;
2 - Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente;
3 - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes ou mais;
4 - Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas;
5 - Volar ao texto quantas vezes precisar;
6 - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
7 - Partir o texto em pedações (parágrafos, partes) para melhor compreensão;
8 - Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, partes) do texto correspondente;
9 - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão;
10 - Cuidado com os vocábulos: destoa (= diferente de...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu;
11 - Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa;
12 - Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamento de lógica objetiva;
13 - Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais;
14 - Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto;
15 - Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia a resposta;
16 - Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definido o tema e a mensagem;
17 - O autor defende ideias e você deve percebê-las;
18 - Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantissimos na interpretação do texto.
Ex: Ele morreu de fome.
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato ( = morte de "ele" ).
Ex: ele morreu faminto
faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que "ele" se encontrava quando morreu.
Tipos Textuais
Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que implicam no domínio
de capacidades linguísticas. Temos dois momentos: o de formular pensamentos (o
que se quer dizer) e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente
dito). Fazer um texto, seja ele de que tipo for, não significa apenas escrever
de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre determinado assunto.
E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de expressão escrita: Descrição –Narração – Dissertação.
Ø Narração : A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários.
O texto narrativo apresenta personagens que
atuam em um tempo e em um espaço, organizados por uma narração feita por um
narrador.
É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro, segundo
relações de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as
relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses
indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é
narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem
ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto narrativo
é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo
de texto são os verbos de ação. O
conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada
nesse tipo de texto recebe o nome de enredo. As ações contidas no
texto narrativo são praticadas pelas personagens, que são justamente as pessoas
envolvidas no episódio que está sendo contado. As personagens são identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos
substantivos próprios.
Além de contar onde, o narrador também pode
esclarecer "quando" ocorreram as ações da história. Esse elemento da
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos
verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as
ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor "como" o fato
narrado aconteceu.
A
história contada, por isso, passa por uma introdução (parte inicial da
história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvimento do enredo (é
a história propriamente dita, o meio, o "miolo" da narrativa, também
chamada de trama) e termina com a conclusão da história (é o final ou
epílogo). Aquele que conta a história é o narrador, que pode ser pessoal
(narra em 1ª pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele). Assim,
o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de
tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens,
que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações
expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história
contada.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a história.
Elementos
Estruturais (I):
ü Enredo:
desenrolar dos acontecimentos.
ü Personagens:
são seres que se movimentam, se relacionam e dão lugar à trama que se
estabelece na ação. Revelam-se por meio de características físicas ou
psicológicas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos
sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o
tímido, o avarento etc.), heróis ou anti-heróis, protagonistas ou antagonistas.
ü Narrador:
é quem conta a história.
ü Espaço:
local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
ü Tempo:
época em que se passa a ação. Cronológico: o tempo convencional (horas,
dias, meses);
ü Psicológico:
o tempo interior, subjetivo.
Elementos Estruturais (II):
Personagens - Quem? Protagonista/Antagonista
Acontecimento - O quê? Fato
Tempo - Quando? Época em que ocorreu o fato
Espaço - Onde? Lugar onde ocorreu o fato
Modo - Como? De que forma ocorreu o fato
Causa - Por quê? Motivo pelo qual ocorreu
o fato
Resultado - previsível ou
imprevisível.
Final - Fechado
ou Aberto.
Esses
elementos estruturais combinam-se e articulam-se de tal forma, que não é
possível compreendê-los isoladamente, como simples exemplos de uma narração. Há
uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e verossimilhança
à história narrada. Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão,
obrigatoriamente sempre presentes no discurso,exceto as personagens ou o
fato a ser narrado.
Exemplo:
Porquinho-da-índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índía.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
Observe
que, no texto acima, há um conjunto de transformações de situação: ganhar um porquinho-da-índia
é passar da situação de não ter o animalzinho para a de tê-lo; levá-lo para a
sala ou para outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do fogão
para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria
era estar debaixo do fogão” implica
a volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum
das minhas ternurinhas” dá
a entender que o menino passava de uma situação de não ser terno com o
animalzinho para uma situação de ser; no último verso tem-se a passagem da
situação de não ter namorada para a de ter.
Verifica-se, pois, que nesse texto
há um grande conjunto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama
o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de estado
pela ação de alguma personagem, é uma transformação de situação. Mesmo que essa
personagem não apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por
exemplo, se o menino ganhou um porquinho-da-índia, é porque alguém lhe deu o
animalzinho.
Existem três tipos de
foco narrativo:
- Narrador-personagem: é aquele que
conta a história na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem
ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
- Narrador-observador: é aquele que
conta a história como alguém que observa tudo que acontece e transmite ao
leitor, a história é contada em 3ª pessoa.
- Narrador-onisciente: é o que sabe
tudo sobre o enredo e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos
íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada com
pensamentos dos personagens (discurso indireto livre).
Estrutura:
- Apresentação: é a parte do texto em
que são apresentados alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da
história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá.
- Complicação: é a parte do texto em
que se inicia propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
conduzindo ao clímax.
- Clímax: é o ponto da narrativa em
que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
-
Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens.
Tipos de Personagens:
Os
personagens têm muita importância na construção de um texto narrativo, são
elementos vitais. Podem ser principais ou secundários, conforme o
papel que desempenham no enredo, podem ser apresentados direta ou
indiretamente.
A
apresentação direta acontece quando o personagem aparece de forma clara no
texto, retratando suas características físicas e/ou psicológicas, já a
apresentação indireta se dá quando os personagens aparecem aos poucos e o
leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir
de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
- Em 1ª pessoa:
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista.
Exemplo:
“Parei na varanda, ia tonto,
atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora.
Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar
de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e
estacava.”
(Machado de Assis. Dom Casmurro)
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode
acreditar, eu estava lá e vi.
Exemplo:
“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do
Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista que fez cancha
nos banhados do Ibirocaí.
Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a
cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na escuridão
das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que chovesse reiúnos acolherados
ou que ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho,
nunca desandou cruzada!...
(...)
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele.
Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não nos víamos desde muito tempo. (...) Fiquei
verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matança dos leitões e no
tiramento dos assados com couro.”
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
- Em 3ª pessoa:
Onisciente: não há um eu que conta; é uma
terceira pessoa.
Exemplo:
“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a
fantasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar
menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha de cetim, das
asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para
disfarçar o sentimento impreciso de ridículo.”
(Ilka Laurito. Sal do Lírico)
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Tipos de Discurso:
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para o personagem, sem a sua interferência.
Exemplo:
Caso de Desquite
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca). Veja, doutor, este velho caducando.
Bisavô, um neto casado. Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me pise, fico uma jararaca.
__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.
__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só
deu de mamar no primeiro mês.
__Você desempregado, quem é que fazia roça?
Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz, sem lhe passar diretamente a palavra.
Exemplo:
Frio O menino
tinha só dez anos. Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde. Mas lembrou-se
do embrulhinho branco e bem feito que trazia, afastou a idéia como se estivesse
fazendo uma coisa errada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo,
sem que percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?) Andando. Paraná
mandara-lhe não ficar observando as vitrines, os prédios, as coisas. Como fazia
nos dias comuns. Ia firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar
muito para nada.
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX.
Exemplo:
A Morte da Porta-Estandarte
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha
está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está
bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha
não sai. Tenham paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não!
E esses tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai
se espalhar... Por que não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar
Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do
País... Abraçá-la no alto de uma colina...
Narrativa e Narração
Existe
alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um componente narrativo
que pode existir em textos que não são narrações. A narrativa é a transformação
de situações. Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivou-se a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, noentanto,
apresenta um componente narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não
incentivo ao incentivo da imigração européia.
Se
a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, o que é narração?
A narração é um tipo de
narrativa. Tem ela três características:
- é um conjunto de
transformações de situação (o texto de Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como
vimos, preenche essa condição);
- é um texto figurativo,
isto é, opera com personagens e fatos concretos (o texto
"Porquinho-da-índia" preenche também esse requisito);
- as mudanças relatadas
estão organizadas de maneira tal que, entre elas, existe sempre uma relação de
anterioridade e posterioridade (no texto "Porquinho-da-índia" o fato
de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez
é anterior ao de o menino levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao
de o porquinho-da-índia voltar ao fogão).
Essa relação de anterioridade e
posterioridade é sempre pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência
linear da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance
machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador começa contando
sua morte para em seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi
modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura,
as relações de anterioridade e de
posterioridade.
Resumindo: na narração, as três
características explicadas acima (transformação de situações, figuratividade e
relações de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem
estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas dessas
características não é uma narração.